MODA: UM SETOR DE FÁCIL INSERÇÃO?

São muitas as abordagens envolvendo a temática da moda, desde comportamento, passando por identidade, até chegar nos tradicionais conceitos de tendência de moda e estilo. Mas antes que entremos aqui em questões filosóficas e conceituais, precisamos lembrar que a moda também é uma indústria, independente do estilo e do porte, empresas, sejam elas grandes varejistas ou pequenas marcas, precisam ser economicamente sustentáveis.

Segundo a ABIT, a indústria têxtil e de confecção brasileira teve faturamento estimado de R$ 194 bilhões em 2021, além disso, os produtos de moda estão entre os líderes de venda em e-commerces e tem o fato de o setor ter um peso social imenso, contribuindo com a renda de milhares de pequenas e médias pessoas empreendedoras e de fornecedoras.

A moda é um setor de inserção relativamente fácil, viabilizada por uma cadeia altamente fragmentada, que permite que marcas sejam criadas a partir de um pequeno escritório, sem necessidade de chão de fábrica próprio. Esse cenário, potencializado pelas vendas e as mídias digitais, viabilizam o surgimento de vários pequenos e médios players. Fora a alta demanda que também atrai grandes investidores, formando um mercado saturado não tão fácil de permanecer.

Nos últimos 10 anos eu tive a oportunidade de ter contato com diversas pessoas de áreas distintas que estavam empreendendo na moda pela primeira vez, ficou claro que mesmo gestores experientes podem ter dificuldades se não entenderem as características que influenciam toda a dinâmica do setor e que afetam diretamente os modelos de negócio das empresas.

Como em outros mercados, na moda, é preciso se atentar às demandas do mercado. Mas ao contrário de outros, muitas vezes os lançamentos de produtos de moda seguem mais a percepção dos criativos ou as pesquisas de tendência prontas do que focam nos clientes (mas esse é assunto para um post inteiro, aguardem!). Se já é difícil prever as escolhas que os clientes farão com a antecedência necessária para viabilizar uma produção, imagine isso somado à fugacidade das coleções de moda.

Ainda que exista uma corrente combativa, a realidade é que a massa consumidora é ávida por novidades, não existe marca slow fashion ou atemporal que não padeça de uma queda na demanda depois de um tempo sem lançamento de produtos. Ainda que roupas, acessórios e calçados não sejam produtos perecíveis, uma produção com o intuito de estocar grandes quantidades de produtos (produzir grandes volumes para diminuir custos de produção), por exemplo, é uma estratégia inviável, especialmente para produtos que não sejam básicos, pois as chances de se gerar grandes volumes de sobra são muito grandes.

Fora isso, são muitas as etapas entre a pesquisa e o planejamento até o lançamento de produtos, e esse timing é determinante para que produtos entrem no momento certo de acordo com o cronograma (que vai contemplar o clima, datas especiais e/ou tendências de moda de acordo com o posicionamento da empresa). Não à toa o modelo fast fashion é tão procurado, porque na teoria, é um modelo de negócio que prevê diminuir o tempo de todo esse ciclo, acompanhando, assim, a ansiedade consumerista.

Bons gestores de moda precisam ter consciência dessas especificidades, ao contrário do que o senso comum acredita, o “gosto e o estilo” é o que a moda vende, o que a sustenta é um bom modelo de negócio, respaldado por muito planejamento, conhecer o cliente (de verdade, sem achismo), acompanhamento constante do desempenho etc. E olha que até aqui não falamos de nenhuma das etapas pós-venda do cliente ou da gestão de resíduos nem do fechamento de ciclos, mas trataremos em breve.

A ideia por trás dessa série de textos é trazer luz para questões de negócios que são menos abordadas no contexto da moda, temas que a vivência e as experiências com consultoria mostraram que são importantes. Quer saber mais sobre alguma questão relacionada? Entre em contato através da Indie. 

Letícia é consultora em negócios de moda com mais de 13 anos de experiência como gestora.
Graduada em negócios da moda, especialista em marketing pela FGV e mestre em têxtil e moda pela EACH-USP (com pesquisa focada na inovação social e na economia circular).

BRECHÓ NÃO É CIRCULAR!

EITA, COMO ASSIM? O SEU MUNDO CAIU?! O meu também caiu quando descobri, e faz pouco tempo que essa informação chegou por aqui de forma

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