O STREET STYLE E A MODA: AS TENDÊNCIAS SÃO REALMENTE SAUDÁVEIS E SUSTENTÁVEIS PARA NÓS?

Chegamos ao final da Semana de moda de Copenhagen conhecida por colocar em voga o estilo escandinavo, minimalista e de tons neutros, lançar nomes como a Ganni e atualmente conhecida pelo rigoroso critério na seleção de marcas sustentáveis para entrarem no calendário. No entanto, me deparo nos famosos Reels do Instagram com uma série de looks para os desfiles montados ao vivo pela blogueira brasileira acompanhar os desfiles. A série era praticamente mostrar os bastidores da montagem dos modelitos para acompanhar os eventos. Entre o “com que roupa eu vou” a justificativa para a arara repleta de roupas era o empréstimo feitos em assessorias para tornar tudo mais sustentável, ou seja, não precisar comprar.

Fiquei pensando no absurdo, aliás, ultimamente ando realmente rabugenta, Aiuto! (Socorro)! A problemática da coisa, que aliás já sou crítica há anos, é o efeito colateral do tal street style e o bombardeio de imagens em nós que acompanhamos o movimento nas portas, as tendências capturadas e pasteurizadas por aí, que pegam em cheio a audiência e incitam justamente o consumo. A influencer esmiuçava como encontrar o mood do desfile, mas informal, street, etc e tal. Onde fica nessa sopa de letrinhas a identidade pessoal, o estilo e a interpretação pessoal? Nomes como Anna Piaggi, Franca Sozzani, Diane Vreeland marcaram a história justamente por não se adaptarem e criarem linguagens próprias e hoje vemos talvez um movimento inverso.  

Bom, nada novo. Suzy Menkes já havia criticado o circo fashion anos atrás e me parece que nem Copenhagen com a sua proposta sustentável se viu livre da invasão de fotógrafos e seus personagens prontos para o flash. É uma praxe nas semanas de moda internacionais, principalmente para nós que cobrimos porta e assistimos os assistentes correndo com as roupas das influencers, com nome na sacola e mais uma mudança para ser Prada, Gucci, etc…

Anos atrás escrevi uma crítica no extinto site que colaborava dizendo como as blogueiras eram o fruto da indústria, mulheres que talvez não quisessem se submeter a Mirandas e viram na internet uma oportunidade de criar a sua própria carreira. Não tinha editor, não tinha corte, era aquilo ali e pronto. E foi se construindo uma nova versão daquilo que influencia o nosso vestir. As revistas perderam força e cada vez mais as influencers passaram a ocupar espaços de prestígio dentro dos desfiles. Se profissionalizaram e inclusive surgiram outros tipos de conteúdo dentro desse universo, ganhando um viés inclusive editorial. O leque é tão grande que mal consigo descrever aqui.

O fenômeno das mídias sociais pode ser nocivo e muito se fala na influência negativa dos filtros, personagens e o boom de imagens daquilo que vemos no nosso feed. Defender a sustentabilidade de roupas emprestadas que criam imagens instantâneas e uma miríade de informações dentro de uma mídia de input é ser inocente ou mal-intencionado. Escolher o look de acordo com o mood do desfile posso dizer que sempre achei bizarro e vou continuar achando. Para atendermos as tais demandas circenses ou até mesmo as do nosso dia a dia nós meros mortais precisaríamos de um guarda roupa de qual tamanho?

Eu, particularmente, apesar de fotografar as semanas de moda, me pergunto até que ponto a minha informação possa ser serviço ou desserviço. O que vale mais o estilo pessoal, personalidade ou vestir-se de acordo com a estética proposta pela marca? Me pergunto de novo, para uma pessoa de fora do mercado como essa informação perpetua as mudanças necessárias para o mundo e para o setor ou cria ainda mais desejo de consumo? Precisamos urgentemente refletir sobre as informações que consumimos e ao tipo de canais que damos engajamento. É isso. Buongiornissimo

Camila Leonelli é relações públicas, fotógrafa e jornalista de moda. Trabalhando como PR internacional, cuida da comunicação de marcas importantes dentro do mercado italiano e também já atuou para em grandes agências e marcas em São Paulo. Foi correspondente e fotógrafa de street style para o site Ana Garmendia. Vive há oito anos na Itália com passagem por Roma e agora Milão. Na área de Moda, possui duas pós-graduações: uma pelo Istituto Europeo di Design em Roma, outra na Universidade Santa Marcelina em São Paulo. É especialista pela Saint Martins em Cool Hunting.

BRECHÓ NÃO É CIRCULAR!

EITA, COMO ASSIM? O SEU MUNDO CAIU?! O meu também caiu quando descobri, e faz pouco tempo que essa informação chegou por aqui de forma

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