BARBIECORE, HIPER FEMINILIDADE, O RETROCESSO E A VITÓRIA DA EXTREMA DIREITA ITALIANA EM UMA SEMANA DE MODA BANAL

Termina mais uma semana de moda milanesa e mais uma vez, em meio a tudo, vem uma tragédia, nesse caso anunciada. O fim da Fashion Week italiana é marcada pela vitória do partido de extrema direita, considerado pós-fascista e chega ao poder por meio de Giorgia Meloni. Nas passarelas a volta dos horripilantes e tenebrosos anos 2000 com magreza excessiva, cinturas baixíssimas e “Barbiecores” andam espalhando por aí e Paris Hilton encerra o desfile da Versace de noiva rosa. O pesadelo assombroso de qualquer menina adolescente daquela época, caminhando com a hiper feminilidade e levando junto nos seus passos a nuvem negra do fascismo que fazia ronda. Match!

Barbies, sofisticadas, de rosa, vestidos curtos, saltos altíssimos. Vogue começa a analisar o estilo da atual premier, cabelos, roupas, os jornais falam da vida privada e os amores complicados e o lado doce de Meloni, nada novo sob o sol patriarcal. Voltando um pouco a fita, rebobinando, como na pré- história, Kim Kardashian entra nos arquivos da D&G para construir a coleção de verão 23 da marca. A família definida como a “the most cheap in the world” (a mais barata do mundo) pela dupla Stefano Gabbana e Domenico Dolce, assume o comando da marca envolvida em várias polêmicas de racismo, misoginia e outras (relembre aqui) e entrega uma coleção de mulheres engessadas mais uma vez, em espartilhos e roupas justas. O grand finale é Kim subindo as escadas pulando, pois não conseguia se mover dentro do próprio vestido. Tenebroso!

vogue.globo.com

A música parece desafinada, fora do compasso do tempo e não é de agora que a moda italiana vem ignorando cenários catastróficos como o da pandemia, de crises políticas e climáticas. Parece que o setor vive um mundo alienado da realidade.

Apesar dos pesares, tivemos coleções bonitas e poéticas com a Prada sob comando de Miuccia Prada e Raf Simons, entregando uma sequência de realidades tão palpáveis, que em algum momento nos identificamos com a proposta da coleção, seja nas cores vibrantes, ou no casaco estruturado ou no vestido transparente, quase uma camisola. O ponto forte e a surpresa agradável ao meu ver foi o desfile de Maximilian Davis para Ferragamo. Jovem estilista, negro e talentoso apresentou uma coleção pronta para nós mulheres que sobem escadas com as pernas, e não em pulos. Simples, e a sua “Hollywood” traz a audácia necessária para encantar a audiência. Estaria a magia de Milão se apagando pelo descompasso com o novo momento? Baci.

Camila Leonelli é relações públicas, fotógrafa e jornalista de moda. Trabalhando como PR internacional, cuida da comunicação de marcas importantes dentro do mercado italiano e também já atuou para em grandes agências e marcas em São Paulo. Foi correspondente e fotógrafa de street style para o site Ana Garmendia. Vive há oito anos na Itália com passagem por Roma e agora Milão. Na área de Moda, possui duas pós-graduações: uma pelo Istituto Europeo di Design em Roma, outra na Universidade Santa Marcelina em São Paulo. É especialista pela Saint Martins em Cool Hunting.

BRECHÓ NÃO É CIRCULAR!

EITA, COMO ASSIM? O SEU MUNDO CAIU?! O meu também caiu quando descobri, e faz pouco tempo que essa informação chegou por aqui de forma

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