GAL: SEMPRE ATENTA E FORTE

A DOCE BÁRBARA QUE LUTOU CONTRA O CONSERVADORISMO DOS ANOS 60 E 70

Começo com uma história confessional. Para mim hoje, escrever esse texto é um grande desafio, não só porque falo de um dos maiores nomes da música brasileira, mas me vejo redigindo uma singela carta de despedida, sem querer dizer o tal “adeus”. Demorei alguns segundos para entender a mensagem da minha amiga contendo três palavras: “Amiga, a Gal morreu”. Não parecia verdade. A voz doce e afinada, grave na medida certa virava melodia de memória. A rebeldia de Gal, a força mágica com seus cabelos encaracolados, virou estrela no mais altos dos céus das notas musicais.

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Gal Costa revolucionou uma geração não só pelo modo de fazer música com guitarras, psicodelia, misturadas com a música popular e concretismo. Foi uma das poucas mulheres dentro da tropicália e junto com Caetano, Gil e Bethânia eram os Doces Bárbaros. O tropicalismo, antropofágico como Oswald de Andrade, devorava a cultura brasileira e a misturava com o internacional como o movimento hippie, rock’n’roll e se criava uma estética de contracultura, de contravenção, indo totalmente contra aquilo que era a bossa nova, por exemplo. Gal Costa com a sua estética hippie, seus cabelos volumosos, encaracolados, os decotes, a sensualidade, os brilhos maximalistas, a ousadia a tocar o violão em uma posição despojada e de pernas abertas, chocavam e encantavam o mundo. A sua dança era livre e nos anos 80, Maria da Graça, seu nome de batismo, foi considerada vulgar. O feminismo de Gal era ato, era o cheque mate em um sistema falido e opressor, era ser aquilo que não se esperava dentro de uma geração que abriu as estradas para a minha.

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Profana. É assim o meu primeiro contato com ela. Nos tantos vinis colecionados por minha mãe era aquele que mais me impactava. Batom vermelhos, cabelos rigorosamente enormes e Vaca profana, a música censurada pela ditadura, enchia a sala de casa, punha os seus cornos, tímida e espalhafatosa. Nos anos 70, seu álbum Índia também foi proibido por ter uma capa considerada muito sensual pelo governo militar. Foram vendidos embalados em plásticos azuis. Era a liberdade de agridoce de Gal que batia de frente com o autoritarismo junto com seus colegas do movimento tropicalismo, seja em território nacional quanto internacional.  Gal morreu lutando pela democracia brasileira e horas antes de morrer, postou uma foto comemorando a vitória das eleições e da liberdade. Maria da Graça, nossa amada rainha Gal Costa, onde estiver, no mais lindo paraíso, sei que estará sempre iluminando as nossas vidas com a sua dança livre e voz potente, uma das mais importantes do Brasil.  Você é história viva e pulsante. Apesar do vazio na imensidão da sua ausência consigo ouvir baixinho “é preciso estar atento e forte”. E você tem toda razão é tudo divino e maravilhoso, pelas estradas de liberdade os teus pés abriram para nós. Seguiremos por aqui, sem medo e resistindo.

Camila Leonelli é relações públicas, fotógrafa e jornalista de moda. Trabalhando como PR internacional, cuida da comunicação de marcas importantes dentro do mercado italiano e também já atuou para em grandes agências e marcas em São Paulo. Foi correspondente e fotógrafa de street style para o site Ana Garmendia. Vive há oito anos na Itália com passagem por Roma e agora Milão. Na área de Moda, possui duas pós-graduações: uma pelo Istituto Europeo di Design em Roma, outra na Universidade Santa Marcelina em São Paulo. É especialista pela Saint Martins em Cool Hunting.

BRECHÓ NÃO É CIRCULAR!

EITA, COMO ASSIM? O SEU MUNDO CAIU?! O meu também caiu quando descobri, e faz pouco tempo que essa informação chegou por aqui de forma

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