Balenciaga entrou em mais uma polêmica, dessa vez, muito perigosa, perversa e realmente inquietante, para não dizer criminosa. Nome da primeira campanha é “Objects” (objetos), fotografada pelo premiado Gabrielle Galimberti. As imagens? Crianças como centro de um cenário com objetos de BDSM, como correntes, colares e nas mãos a bolsa em forma de urso usando bondage. Não bastando tudo isso, a marca coloca uma imagem de Isabelle Huppert com ao fundo um livro de Michael Borremans, artista cujo a produção envolve crianças nuas envolvidas com adultos em ato de violência incluindo o canibalismo. Para encerrar, a segunda é a SS23 com fotos feitas por Chris Maggio contendo uma bolsa produzida em parceria com a Adidas sobre documentos da sentença SCOTUS de 2008 que defendia a promoção ou a publicidade de pornografia infantil como reato federal não protegido pela liberdade de expressão. Balenciaga caiu nas redes acusada de promover pedofilia e abuso infantil. A socialite e influencer Kim Kardashian publicou em suas mídias que vai reavaliar a parceira com a Maison, pois não tolera a exposição de crianças a violência e a modelo Bella Hadid apagou as últimas imagens feitas com a marca.
Esse é o resumo do péssimo gosto e do mau caratismo de todos os envolvidos na criação dessa campanha para as vendas de fim de ano da Balenciaga. Já o título “Objetos” é tão horrível e de embrulhar o estômago. A marca se pronunciou logo após a polêmica viralizar, lavando as mãos, se desculpando e apontando terceiros como culpados pela produção do conteúdo. Uma sucessão de erros que vão dando corpo a um verdadeiro show de horrores.
Não é só uma atitude arrogante da parte envolvida, mas também é subestimar a inteligência do consumidor. Quem trabalha com comunicação sabe muito bem que para a produção de uma campanha é envolvido um time grande interno e externo, e todos passam pela aprovação da casa mãe. Inclusive, quando o material está pronto, ele é pós produzido e mais uma vez passa pelo crivo da equipe interna da marca. Já o consumidor associa a criatura ao criador e com toda razão. O que mais me incomoda é saber que de todas as pessoas que tiveram acesso a esse material, não sentiram nem no mínimo uma estranheza, repulsa e até preocupação, e no final ainda publicaram. Será que para eles estava tudo bem? Fico me perguntado, acho no mínimo negligentes aos efeitos catastróficos causados por uma obra do gênero.
Crianças são os seres mais vulneráveis da sociedade e ver esse tipo de produto imagético usando a palavra sexo e imagens relacionadas a ele diretamente ligadas a elas, legitimando o estupro e abuso de vulnerável gerando uma repulsa e um mau estar inexplicável! Para onde estamos indo? Não consigo encontrar palavras. Me pergunto em que momento a tal marca acreditou nessas imagens seriam ótimas e interessantes para promover um produto. E vou além, qual era a mensagem proposta? Não consigo realmente achar a reposta.
Objetificar, sexualizar e violentar crianças. Sim, vamos dar nomes claros aqui, é tão perverso que começo a questionar a relevância do diretor criativo Demna Gvasalia e toda sua equipe seja para a Balenciaga, seja para a sociedade. Não é questão aqui de gostar ou não das roupas, mas de estar aliada a uma conduta de morte, violência, abusos e objetifição de seres indefesos que deveriam estar sendo tutelados e cuidados pela sociedade, não expostos a perigos e fetiches de adultos perversos e sem caráter.
De todas as polêmicas que já vi nesses anos nesse setor, racismo, pornografia, antissemitismo, estupro, morte em passarela e agora pedofilia me pergunto até quando vamos passar o pano e fazer o show andar desafinado, cruel sem respeito e dignidade? Até quando vamos tratar como erro, as entranhas de um setor tóxico, sem abertura ao debate, esnobe, prepotente e com mentes realmente perigosas nos bastidores dizendo que é assim mesmo, um deslize e amanhã estaremos batendo palmas na primeira fila para mais uma genialidade de sujeitos apodrecidos por dentro? Fica a minha pergunta. E dessa vez, para mim, todo o time da Balenciaga, incluindo o diretor criativo tem culpa no cartório. Se foi publicado e aprovado, a maioria, em algum momento, concordou com uma aberração sem cabimento e inaceitável como essa. O resto ou se isentou ou foi silenciado, não duvido.
E para concluir, criança não é objeto, não é produto e não é fetiche. Criança é um ser em formação, vulnerável e frágil, e que deve ser tutelada e cuidada por todos nós, pais, mães, tias, compadres, comadres, etc. A nossa sociedade evolui de forma saudável quando nossos pequenos crescem em um ambiente de amor e proteção.