O Brasil Eco Fashion Week – BEFW – “é um evento anual que promove as boas práticas de sustentabilidade no mercado e indústria da moda brasileira, reunindo conteúdos educativos e inspiracionais, desfiles, salão de negócios, exposições e atividades de empreendedorismo.”
Participei da 6ª edição no Senac da Faustolo na região da Lapa em SP, mas inicialmente não falarei especificamente desta edição, mas com um olhar geral da evolução do evento até aqui, mesmo com todas as dificuldades que as organizações dos eventos de moda enfrentam nesta retomada.
Estava num papo com uma amiga durante o evento e refletindo em como andar no sentido contrário e ainda de forma desacelerada exige um despedimento de energia muito maior dos que nadam a favor da maré e sem desmerecer. Mas, na verdade o que importa são os valores que estão sendo construídos na caminhada até chegarmos a uma cultura de comportamento voltado para o bem estar social. Vejo muita evolução desde que comecei a trabalhar com sustentabilidade na moda há quase 10 anos. Mas, temos ainda um longo caminho pela frente a ser percorrido.
Lembro da primeira edição da BEFW, potente e que atraiu cerca de três mil pessoas. Toda a caminhada dos organizadores, das marcas e designers que deslancharam graças ao evento.
Tive diferentes sensações em cada evento de moda de relevância que estive presente neste ano. Chegar na BEFW sempre me gera uma sensação diferente dos outros eventos, de acolhimento, de colaboração genuína. Pode ser que sinto uma sensação de pertencimento por andar na contra mão há tanto tempo! Afinal, o evento é voltado para o setor de moda, com foco nos atributos de sustentabilidade. Participar da BEFW sempre me alimenta meus motivos para seguir em frente e nesta 6ª edição não foi diferente!
Marcas e desfiles que verdadeiramente e genuinamente seguem resistindo e lutando de forma “slow” não somente no quesito velocidade, mas também como uma forma empática de visão e atuação num mercado mais “fast” que nunca e para não falar “ultra fast”. E seguir instigando o pensamento crítico de quem assiste e consome moda com propósitos é um desafio enorme! A verdade dos (as) designers e diretores criativos (as) e o anseio por mudança é organicamente passado através das roupas e de todo o combo levado as passarelas.
Workshops extremamente relevantes com profissionais atuantes no mercado com olhares voltados aos pilares sustentáveis estiveram presentes.
Pessoas diversas, corpos reais, cores, povos originários, ancestralidade. Quando perguntamos onde estão a população negra, indígena e PCD na moda, posso afirmar que encontram-se nas passarelas da Brasil Eco Fashion Week. Passarelas humanizadas.
Conheça um pouco das marcas que tive a honra de prestigiar:
* We’e’ ena Tikuna: @weenatikunaarteindigena – artista indígena e que transformou a passarela em território indígena abordando o ritual de passagem feminino, destacando a força das artes do povo Tikuna. O Tururi sendo usado como matéria principal e fibra de algodão orgânico e linho, além da cor vermelha representando o sangue do ritual.

* Woolmay Myden: @wmayden_brand: artista negro, diretor criativo e designer da marca que carrega seu nome trouxe o jeans as passarelas em corpos diversos numa estética casual, mas com modelagem e cortes modernos e mostrando as diversas possibilidades do jeans. Me deu vontade de ter todas as peças!

* VB Ateiier: @vbatelier
Como a própria marca se autodenomina: moda afro futurista. Foi fundada no RJ em 2012 pela designer Andrea Vilas Boas, desenvolve peças em alfaiataria com viés da ancestralidade africana e culturas dos povos originários. Na passarela, cores quentes, tecidos leves, terceiras peças e mix de estampas.

* Libertees Brasil: @liberteesbrasil. Marca que já tive a honra de expor nos corredores do salão de negócios do Minas Trend em 2019 das queridas Dani e Marcela. A marca é de Belo Horizonte, minha cidade natal. A querida Ana Sudano assinou o estilo da coleção “Prosas da Rua” cheia de cores, estampa em tecidos esvoaçantes com tingimento manual e peças street com cores neutras contrapondo as estampas. Alegria ver vocês brilhando, meninas!

* Sioduhi Studio: @sioduhistudio
SIODUHI é o fundador e criativo da Sioduhi Studio. Indígena do povo Waíkahanã. A marca quer vestir e despir ao mesmo tempo. Despir o apagamento histórico e vesti-lo com a beleza originária e o protagonismo dos povos indígenas de Pindorama (Brasil). Marca que alcança indígenas e não-indígenas.
Nas passarelas Tons neutros e claros, leveza, tecidos fluidos.

* Christian Sato: @christiansatobrand
Foi o último desfile que assisti e me marcou bastante por se diferenciar muito da estética apresentada pelas outras marcas na passarela. Um cenário apocalíptico, intrigante, dark! Eu particularmente amo! A coleção foi chamada de “Acid Rain” com predominância das cores preta e branca. Uma estética futurista e acredito eu com influências da moda asiática. A marca é casual e as peças confeccionadas sob demanda.

As roupas ainda são e continuarão sendo a forma de inteiração entre os seres humanos na indústria da moda e através delas precisamos CoCriar o futuro de mãos dadas.
Parabéns aos organizadores do evento!
Fontes: www.instagram.com/p/ClwpiaePMip/?igshid=YmMyMTA2M2Y=
www.sioduhi.com

Advogada, especialista em criminologia e em direito da moda. É designer de moda e possui 2 marcas Slow fashion. Consultora em negócios de moda sustentáveis, professora em direito da moda e negócios de moda e ativista pelo Fashion Revolution.